O HOMEM-MASSA – 3 (CONCLUSÃO)

Palavras de Ortega y Gasset extraídas do seu livro La Rebelión de las Masas, escrito na Espanha ao longo da década de 1920.
“Apoderou-se da direção social um tipo de homem a quem não interessam os princípios da civilização. O homem hoje dominante é um primitivo, emergindo em meio a um mundo civilizado. Civilizado é o mundo, seu habitante não o é: nem sequer vê nele a civilização, mas usa dela como se fosse natureza.
“Civilização avançada é sinônimo de problemas árduos, porque a vida é cada vez melhor e mais complicada. Ao se complicarem os problemas, vão-se aperfeiçoando também os meios para resolvê-los. Mas é necessário que cada nova geração se torne senhora desses meios adiantados.

“O HOMEM VULGAR DECIDIU GOVERNAR O MUNDO. Este novo tipo de homem-massa tem a seguinte estrutura psicológica: primeiro, uma impressão radical de que a vida é fácil, sem limitações; portanto, cada indivíduo médio possui uma sensação de domínio e triunfo. Segundo, afirma-se a si mesmo tal como é, e CONSIDERA BOM E COMPLETO SEU ESTOQUE MORAL E INTELECTUAL – fechando-se em si mesmo para toda instância exterior, não ouve, não questiona suas opiniões e não conta com os demais. Atuará como se somente ele e seus congêneres existissem no mundo. Terceiro, INTERVIRÁ EM TUDO IMPONDO SUA OPINIÃO VULGAR, sem contemplações nem reservas. Este personagem, que agora anda por toda parte e quer impor sua barbárie íntima, é o herdeiro da civilização.
“O MAIOR PERIGO QUE HOJE AMEAÇA A CIVILIZAÇÃO TAMBÉM NASCEU DA CIVILIZAÇÃO E CONSTITUI UMA DAS SUAS GLÓRIAS: O ESTADO CONTEMPORÂNEO. Recorde-se como o Estado era pequeno no fim do século XVIII. Com a Revolução, a burguesia apossou-se do poder público e aplicou ao Estado suas inegáveis virtudes: talento prático para organizar, disciplinar e dar continuidade e articulação ao esforço. Em pouco mais de uma geração criou um Estado poderoso. O homem-massa admira-o, mas não tem consciência de que é uma criação humana, criada por certos homens e mantida por certas virtudes. O homem-massa acredita que o Estado é coisa sua. A qualquer dificuldade, conflito ou problema, o homem-massa exigirá que o Estado se encarregue de resolvê-lo. Este é o maior perigo que ameaça a civilização: a estatização da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo Estado: isto é a anulação da espontaneidade, que sustenta, nutre e impulsiona os destinos humanos. O homem-massa acredita que ele é o Estado, e tenderá cada vez mais a fazê-lo funcionar a qualquer pretexto, esmagando com ele toda minoria criadora que o perturbe: na política, nas idéias, no empreendedorismo. A espontaneidade social será violentada pela intervenção do Estado. A sociedade terá que viver para o Estado.
“Quando se sabe disso, lembre-se que Mussolini pregava com petulância, como um descobrimento dos fascistas, a fórmula: TUDO PELO ESTADO; NADA FORA DO ESTADO; NADA CONTRA O ESTADO. BASTARIA ISSO PARA DESCOBRIR NO FASCISMO UM TÍPICO MOVIMENTO DE HOMENS-MASSA.
FIM

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