A PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA (1ª Parte)

Muito tem sido dito sobre a produtividade agrícola. Quase sempre dando razão aos céticos da estatística que dizem que com estatísticas é possível provar qualquer coisa.
O foco da questão é a produtividade dos assentados (ou a falta dela). Enquanto o CNA baseia suas declarações em uma amostragem que o Ministro do Desenvolvimento Agrário diz ser falha porque não é representativa da totalidade, sem mesmo conhecer a amostra utilizada, este alega que a produtividade dos assentados é alta, porque o IBGE concluiu que a produtividade da agricultura familiar, na qual se incluem os assentados, é superior à do agronegócio.

Vamos aos fatos: a agricultura familiar é, em sua imensa maioria, constituída de pequenos proprietários de fazendas que cultivam nas suas propriedades produtos de alto valor, enquanto o agronegócio cultiva commodities, com valor bem inferior. São dois tipos de negócio diferentes. Os assentados constituem uma parcela pequena do resultado da produção agrícola do conjunto denominado agricultura familiar. O governo mistura os assentados, que têm baixa produtividade, com pequenos agricultores proprietários da terra, que têm alta produtividade, e obtém um valor médio aceitável. Além disso, a produtividade foi medida em reais por hectare. Será que é a medida certa? Poderíamos medir em toneladas por hectare, em reais por homem-hora ou em toneladas por homem-hora. A única medida em que a produtividade da agricultura familiar é superior é em reais por hectare. No entanto, sempre se mede a produtividade pela unidade do fator escasso. Será a terra, no Brasil, o fator escasso? Em um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, em que o governo se dá ao luxo de distribuir áreas imensas para indígenas, sem produção alguma, dificilmente me farão crer que a terra é o fator escasso. Talvez fosse mais válido medir a produtividade em reais por homem-hora, pois é aí que temos uma medida da renda per capita agrícola e teríamos uma produtividade muitíssimo maior no agronegócio.
No entanto, nada disso é válido: comparar a produtividade do agronegócio com a produtividade da agricultura familiar em reais por qualquer coisa, especialmente por hectare, é uma brincadeira de mau gosto, pois são dois tipos de negócio diferentes. Seria o mesmo que comparar a produtividade de uma refinaria de petróleo com a de um laboratório de produtos médicos especializados, ambas em reais por metro quadrado ocupado pela refinaria e pela fábrica. Estaríamos misturando alhos com bugalhos.
Para medir a produtividade dos assentados só há uma maneira: comparar a produtividade dos assentados com a dos agricultores proprietários das suas pequenas fazendas. Se quisermos ser precisos, deveremos comparar a produtividade dos assentados e dos agricultores familiares proprietários que se dedicam ao mesmo produto e aí poderemos medir por hectare. Por exemplo, qual a produtividade de cada um em quilos por hectare na produção de feijão, verduras, morangos, mamão etc., etc. Estaríamos no mesmo tipo de negócio. Mas isto o governo jamais fará, porque ficará provada a falência do modelo adotado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Continua

Um comentário:

raxxon disse...

Ola prof Lacombe, muito pertinentes a sua exposiçao pois enquanto se perde tempo discutindo sobre ideologia no campo, poderiamos estar investindo em qualificaçào, logistica e inovação para melhor produzir aliemtos e commodities.