CONHECIMENTO, PODER E CORRUPÇÃO

Muitas pessoas ficam perplexas com a falta de atenção que as autoridades dão à educação. Entra governo, sai governo e é sempre a mesma coisa: a preocupação com a educação é relegada à última prioridade. No fundo, parece-me que a razão disso é muito simples: conhecimento é poder e os que detêm o poder não querem dividi-lo.

Os políticos não têm o menor interesse em educar o povo, porque sabem que no dia em que o povo for esclarecido, seus representantes no congresso ou no poder executivo serão outros.
O problema é que, em uma democracia, é preciso um povo esclarecido para existir um governo competente e honesto, mas os detentores do poder não querem o povo esclarecido. Entramos, assim, num círculo vicioso. Não adianta tentar imaginar uma saída sem democracia, porque um governo autoritário se apega ainda mais ao poder e despreza também a educação.
Para piorar a situação, vale o que disse Lord Acton no século XVIII: “O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”. Em 1930, Hayek escreveu um artigo em que defendia a tese que o poder seria cada vez mais ocupado por pessoas pouco escrupulosas. A razão é simples: a luta pelo poder está cada vez mais intensa e as pessoas escrupulosas não se permitem atitudes antiéticas. Com isto perdem sempre essa briga para os inescrupulosos que são capazes de tudo. Imaginemos, para fins de comparação, um jogo de futebol em que a um dos times é permitido fazer falta, pegar a bola com a mão e fazer gol de impedimento, enquanto seu adversário é obrigado a jogar estritamente dentro das regras da FIFA. Dá para perceber quem vai ganhar o jogo?
Qual, então, a solução? Duas providências são importantes: a divisão dos poderes e a pressão popular por meio da mídia, internet e outros meios de comunicação. Quando um poder invade o terreno de outro, como fez o governo invadindo a mídia com a TV pública, estamos concentrando poder e indo na contramão do progresso. Os poderes devem evitar interferências nos demais: a concentração de poder tende a aumentar a corrupção.

Um comentário:

Georges disse...

Concordo com a falta de interesse do governo em promover uma educação libertadora; no sentido de uma educação que forme indíviduos autônomos no pensar, conscientes dos seus direitos e principalmente dos seus deveres. Mas creio que há outros fatores importantes para a dificuldade do governo em promover educação de qualidade. Primeiro é o fato de que educação é um projeto de longo prazo, e hoje os governos pensam mais no horizonte de 4 anos. Segundo por ser a educação um processo, um serviço e não um produto que se entrega. Se fosse um produto que pudesse ser comprado por licitação e superfaturado e depois distribuido em caixinhas para todos certamente seria muito mais fácil. É o caso da falácia da inclusão digital que se daria pela distribuição de micros. Mas educação exige gestão, continuidade de gestão, estratégia, e tudo que tem que existir para a prestação de serviço. Exige ae formação dos professores e também de todos os profissionais que fazem parte desse universo, como diretores de escola, administradores de escolas, assistentes sociais especializadas e etc, mas isso também é um projeto de longo prazo, tanto na construção quanto na manutenção. Tudo isso é muito complexo e exige muita competência administrativa e esta hoje está longe de habitar os governos. Lotados de apadrinhados políticos incompetentes que usam os cargos como trampolim para outros cargos, no governo parece que ninguém olha o que realmente precisa ser feito. Profissionalização da gestão pública é o que falta para termos educação, saúde e serviços públicos de qualidade. Hoje vivemos tempos efêmeros que o ontem é descartado e quase nada é construído no lugar. Os governos hoje são a prova viva da segunda lei da termodinâmica que postula que a entropia do universo tende a um máximo.